Nos tempos atuais, conseguimos perceber com facilidade as mudanças acontecendo ao nosso redor. Para o bem ou para o mal é inevitável, elas estão aqui. Muitos de nós, ou ouso em dizer, a maioria, não estávamos preparados para viver em uma sociedade pandêmica em meio à adaptação ao novo normal com as máscaras, álcool em gel e a falta de contato com as pessoas próximas, ainda assim aqui estamos.
As megatendências têm tudo a ver com o fato de todos nós sermos pegos de surpresa por fatos que muitas vezes não antecipamos. As megatendências são projeções para um futuro não tão distante assim, através do nosso presente atual e do futuro imediato, para que seja possível a criação de estruturas e para nós preparamos para potenciais cenários.
Uma das tendências previstas é a evolução de algo que já nos cerca constantemente, elas estão nos nossos celulares, nas redes sociais, na boca do povo e até na televisão. Consegue imaginar o que é?
São as Mídias Sintéticas originadas das “Fake News” ou “Notícias Falsas”. Atualmente, para que um fragmento de notícia se torne verdade, basta que seja propagada e que ganhe a afeição ou concordância do leitor. Quem nunca leu algo que pensou ser verdade, até que fosse provado o contrário, não é mesmo? Mas quantas vezes será que as pessoas vão atrás da fonte da notícia e a raiz do problema, em busca do real sentido e interpretação das coisas?
As mídias sintéticas hoje apresentam um risco à realidade como um todo, seja ela virtual ou não, pela facilidade em criá-las. De modo que já teve influência gigante nas relações de consumo e até mesmo nas relações políticas.
Inclusive, hoje no Brasil a propagação de “Fake News” já tem consequência jurídica. O Supremo Tribunal Federal condenou o Deputado Federal Eder Mauro por difamação por meio da disseminação de Fake News quando postou no Facebook um discurso alterado do ex-Deputado Federal Jean Wyllys.
Mas afinal, o que isso tem a ver com as empresas? A partir dos últimos anos em que a facilidade de acesso à informação tem colocado as empresas em pauta constantemente, em que são questionados seus valores, marcas até os stakeholders. Por exemplo, a nova estratégia de “Siga o Dinheiro” (Follow the Money) tem como objetivo trazer a luz de patrocinadores de jornais e veículos de notícia que estão financiando, mesmo que sem conhecimento ou indiretamente, a disseminação de notícias falsas através de publicidade.
Até mesmo o Parlamento Europeu já se envolveu no combate às notícias falsas por meio de um relatório para plataformas online e ao mercado único digital, colocando diretrizes e recomendações até mesmo quanto a concorrência desleal, promovendo a fiscalização e investigação de críticas falsas ou a exclusão de críticas negativas sobre plataformas, em busca de uma vantagem competitiva.
Ademais, hoje já temos empresas em funcionamento no Brasil que conseguem copiar de forma idêntica a voz de líderes políticos por meio dos chamados “deep fakes”. As empresas, portanto, com a possibilidade de concorrência e competitividade do mercado, não estão isentas de sofrerem os males da propagação de mídias sintéticas, que novamente tem impacto direto com a confiança do consumidor, já dizia o dito popular que confiança é igual vidro, quando se quebra é difícil reparar.
O que as empresas podem fazer para manterem confiabilidade em seus fatos? É importante que a criação de identidade de uma marca seja coerente com os seus atos, além da possibilidade de distribuição de seus conteúdos com marca d’água, sempre prestando atenção no que pode ser feito para evitar distorção de suas crenças.
Nesse sentido, a adoção de compliance, políticas internas e de contratos que protejam a empresa quanto a disseminação de mídias sintéticas podem proteger a imagem e o ativo intangível das organizações.
Júlia Miranda Loes Alcalá, Advogada de Direito Societário e Contratos Nacionais e Internacionais na Iizuka Advocacia, Pós-Graduanda em Direito Internacional pela PUC-SP e em Direito Empresarial pelo INSPER.